Os processos iniciaram em agosto de 2016, quando nossa interferência passou a acontecer com recorrência no ambiente. Em dezembro de 2017, realizamos a primeira mostra da rede-organismo-contágio. Após a exposição, como era previsto, vieram as chuvas de verão que imprimiram efeitos/mudanças nesse ambiente. Foi o momento em que deixamos o protagonismo para que o que fora produzido entrasse em convergência com a autopoieses - capacidade da vegetação criar a si própria junto a diversas espécies. Essa segunda mostra é o fechamento desse ciclo anual para compartilhar experiências num bom encontro com seus possíveis acontecimentos.
Curadoria: Mathias Reis Artistas: Adriana Conceição . ALMA . Alexandre Silveira . Andreia Dulianel . BA . Bruna Dolenc . Caio Boteghim . Caio Gusmão . Camila Torres . Carriero . Cecilia Stelini . Constante . Diana Lanças . Gabriela Benatti . Gilio Mialichi . Giló Silvatti . Iam Campigotto . João Wesley . Luis Martinelli . Luiz Cruz . Mateus Stelini . Mathias Reis . MIRS .Paulo Cheida . Raphael Wohnrath . Seizo Soares . Vitor e Maria Nascimento . Vitor Pohl Cartografia |
Trabalhos
Fotos do evento
Texto Curatorial
Por Mathias Reis
O Atelier Contágio é um laboratório de processos artísticos junto ao ambiente desde junho de 2016. Partimos do pensamento de que não há fronteiras entre cultura e natureza ou uma hierarquia entre um mundo humano e um mundo não-humano. Não temos como distinguir nossas práticas, nossas tecnologias e nossa cultura hiper-industrial do jogo de forças do ambiente – nessa lugar outras espécies, elementos e forças geológicas também atuam como sujeitos em sua manutenção/metabolismo. Não há uma natureza primeva a distinguir, não há uma natureza humana ou uma essência a que possamos retornar para nos redimir do progresso distópico que avança sobre a terra e sobre nós mesmos. Vivemos uma multiplicidade compartilhada, um único plano que articula o ambiente, a sociedade e a subjetividade, a que Guattari conceituou como eco-lógica, ou, a lógica das intensidades.
Ao mesmo tempo, também produzimos efeitos e podemos propor experiências, refletir e criar a partir da interferência que desempenhamos nesses agenciamentos - questionar a normatividade bio-política. Quando pela primeira vez chegamos ao Atelier Contágio ele era um espaço extenso com um gramado seco que cobria entulhos de construção, a vida havia sido reduzida consideravelmente por uma ação antrópica que interveio sobre ele. Numa outra postura, tentamos interagir com esse espaço para estruturar outras condições de vida. Não se trata de retornar ao que esse ambiente fora outrora, mas de um movimento de territorialização. Cada artista ou participante dos mutirões que trabalha as materialidades desse espaço, produz subjetividade e expressão. Como somos muitos, geramos uma grande trama no cruzamento desses territórios e assim, constituímos uma mesma força e ainda que múltipla e complexa, uma mesma potência – um contágio.
Em dezembro de 2017, realizamos a primeira mostra pública da rede-organismo-contágio. Até essa data, a interferência aconteceu com recorrência. Com as materialidades, fossem elas orgânicas ou descartes industriais, foram desenvolvidos diálogos de proximidade ao corpo, tanto por parte dos artistas quanto por quem participou das vivências e mutirões. Após a exposição, como era previsto, vieram as chuvas de verão imprimiram mudanças nesse ambiente. Foi o momento em que deixamos o protagonismo para que os trabalhos produzidos fossem tomados pela autopoiesis – a capacidade da vegetação produzir a si própria junto a diversas espécies. Um processo semelhante aconteceu com o encontro entre vários artistas na produção poética/estética. Tivemos como resultado um ambiente tomado, desterritorializado, sem nenhuma tentativa de controle de nossa parte. Esse período ocorreu durante 4 meses (uma estação), até que voltássemos a interferir nesse último mês para preparar espaços e receber a segunda mostra pública.
Temos agora um território complexo, uma construção conjunta na eco-lógica. Esse processo, que passou por infindáveis transformações é uma potência. Em sua efemeridade, há apenas mudanças de estado de transformação da matéria e da energia: uma semente – uma muda – uma árvore – um tronco seco – um tronco carbonizado – um pedaço de carvão – uma terra fértil – um tijolo de terra – uma tinta de terra – uma terra decompondo mais matéria. Do mesmo modo, alguns trabalhos artísticos também se alteraram – outros não - alguns artistas por hora se despedem, a outros damos as boas vindas. É essa ausência de contornos que caracteriza a experiência da arte com o ambiente como um sinônimo de vida e imanência. O Atelier Contágio foi esboçado nesse laboratório a céu aberto, que podemos entender como um site-specif/lugar específico. No entanto, ele se constituiu principalmente como non-site/não lugar: um território imaterial e subjetivo no plano de experiência dos envolvidos, um ponto de partida para um território nômade. Assim, essa será a última edição do Contágio nesse espaço. Após essa exposição, levaremos esse território ao contato com outros ambientes, onde teremos a possibilidade vê-lo tomar forma a partir de outras relações. Esperamos compartilhar com vocês essas experiências de transformação num bom encontro e seus possíveis acontecimentos.
O Atelier Contágio é um laboratório de processos artísticos junto ao ambiente desde junho de 2016. Partimos do pensamento de que não há fronteiras entre cultura e natureza ou uma hierarquia entre um mundo humano e um mundo não-humano. Não temos como distinguir nossas práticas, nossas tecnologias e nossa cultura hiper-industrial do jogo de forças do ambiente – nessa lugar outras espécies, elementos e forças geológicas também atuam como sujeitos em sua manutenção/metabolismo. Não há uma natureza primeva a distinguir, não há uma natureza humana ou uma essência a que possamos retornar para nos redimir do progresso distópico que avança sobre a terra e sobre nós mesmos. Vivemos uma multiplicidade compartilhada, um único plano que articula o ambiente, a sociedade e a subjetividade, a que Guattari conceituou como eco-lógica, ou, a lógica das intensidades.
Ao mesmo tempo, também produzimos efeitos e podemos propor experiências, refletir e criar a partir da interferência que desempenhamos nesses agenciamentos - questionar a normatividade bio-política. Quando pela primeira vez chegamos ao Atelier Contágio ele era um espaço extenso com um gramado seco que cobria entulhos de construção, a vida havia sido reduzida consideravelmente por uma ação antrópica que interveio sobre ele. Numa outra postura, tentamos interagir com esse espaço para estruturar outras condições de vida. Não se trata de retornar ao que esse ambiente fora outrora, mas de um movimento de territorialização. Cada artista ou participante dos mutirões que trabalha as materialidades desse espaço, produz subjetividade e expressão. Como somos muitos, geramos uma grande trama no cruzamento desses territórios e assim, constituímos uma mesma força e ainda que múltipla e complexa, uma mesma potência – um contágio.
Em dezembro de 2017, realizamos a primeira mostra pública da rede-organismo-contágio. Até essa data, a interferência aconteceu com recorrência. Com as materialidades, fossem elas orgânicas ou descartes industriais, foram desenvolvidos diálogos de proximidade ao corpo, tanto por parte dos artistas quanto por quem participou das vivências e mutirões. Após a exposição, como era previsto, vieram as chuvas de verão imprimiram mudanças nesse ambiente. Foi o momento em que deixamos o protagonismo para que os trabalhos produzidos fossem tomados pela autopoiesis – a capacidade da vegetação produzir a si própria junto a diversas espécies. Um processo semelhante aconteceu com o encontro entre vários artistas na produção poética/estética. Tivemos como resultado um ambiente tomado, desterritorializado, sem nenhuma tentativa de controle de nossa parte. Esse período ocorreu durante 4 meses (uma estação), até que voltássemos a interferir nesse último mês para preparar espaços e receber a segunda mostra pública.
Temos agora um território complexo, uma construção conjunta na eco-lógica. Esse processo, que passou por infindáveis transformações é uma potência. Em sua efemeridade, há apenas mudanças de estado de transformação da matéria e da energia: uma semente – uma muda – uma árvore – um tronco seco – um tronco carbonizado – um pedaço de carvão – uma terra fértil – um tijolo de terra – uma tinta de terra – uma terra decompondo mais matéria. Do mesmo modo, alguns trabalhos artísticos também se alteraram – outros não - alguns artistas por hora se despedem, a outros damos as boas vindas. É essa ausência de contornos que caracteriza a experiência da arte com o ambiente como um sinônimo de vida e imanência. O Atelier Contágio foi esboçado nesse laboratório a céu aberto, que podemos entender como um site-specif/lugar específico. No entanto, ele se constituiu principalmente como non-site/não lugar: um território imaterial e subjetivo no plano de experiência dos envolvidos, um ponto de partida para um território nômade. Assim, essa será a última edição do Contágio nesse espaço. Após essa exposição, levaremos esse território ao contato com outros ambientes, onde teremos a possibilidade vê-lo tomar forma a partir de outras relações. Esperamos compartilhar com vocês essas experiências de transformação num bom encontro e seus possíveis acontecimentos.
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